Centro Municipal de Dança


Centro Municipal de Dança é um órgão da Secretaria Municipal da Cultura (SMC) da Prefeitura de Porto Alegre que articula as políticas públicas de dança na capital gaúcha. Atua na preservação da memória, no fomento à produção, na formação de público, difusão e acesso às informações da dança. Desenvolve atividades artístico-pedagógicas e promove relações com a produção em dança estadual, nacional, e internacional. O objetivo é valorizar os profissionais, promover a produção e o desenvolvimento da arte da dança, tornando-se um espaço de referência para a área na cidade de Porto Alegre.

PROJETOS DO CENTRO DE DANÇA

PUBLICAÇÕES DO CENTRO DE DANÇA

1 de agosto de 2013

Estudantes da UFRGS escrevem sobre o Festival Dançapontocom

O  IV Festival Dançapontocom contou com o apoio do Curso de Licenciatura em Dança da UFRGS. Tivemos a presença de uma dos docentes na seleção da Mostra Coreográfica e intensa participação dos estudantes em toda a programação do Festival. Nesta postagem, publicamos três textos escritos por alunos da graduação do Curso de Graduação.



Percepções “Sobre o armário e a atividade dos objetos – estudo para natureza móvel”

Paola Vasconcelos


          Através de um clima intimista somos convidados, quase como intrusos, a visualizar um momento de suspensão, de pausa no nosso cotidiano atarefado. A cena começa com a intérprete se relacionando com o seu próprio corpo, quase como uma necessidade de se conectar consigo mesma, uma preparação para o que ira acontecer depois. Através do ritual de amarrar o cabelo, percebemos que ela se torna pronta para o próximo passo que prevê a sua relação com os objetos como o nome supõe. É então que ela descobre o armário e o infinito de coisas que nele existem, borboletas, bolinhas de gude, potes, sino, pequenos quadros, todos estão ali com suas funções explícitas. Nada mais que objetos e nada menos que os tais, são fatos e demarcam sua presença na cena. Sendo que ao mesmo tempo em que designam um mundo real acabam evidenciando a ausência de um sujeito (BAUDRILLARD, 2001). Entretanto ao se tratar da relação entre objetos e intérprete e possível identificar que os mesmos potencializam que naquele contexto existe a presença de um sujeito que irá manipula-los. A bailarina se propõe relacionar-se com eles, porém em nenhum momento os personifica ou desfuncionaliza aqueles corpos. Eles propõem ações quando negam aos seus comandos, de certa forma quase que como vingança, pois nos sujeitos temos a tendência de queremos dominar os objetos ao pensarmos na lógica que fomos nós que os produzimos. Entretanto a interprete em alguns momentos joga com esses erros, apesar de demostrar para plateia através de suspiros de que algo saiu de seu percurso, ou não em alguns momentos essa negação é ignorada pela mesma. No decorrer podemos visualizar cores e imagens que vão sendo compostas a cada modificação espacial organizacional que a bailarina faz com seus companheiros de cena. Em alguns momentos sentia que o movimento me parecia demasiado já que o clima era tão detalhista, o mexer como se houvesse a necessidade de dançar me incomodava já que estava capturada pela ideia de perceber o movimento pequeno de relação entre o corpo sujeito e o objeto. Em resumo o que presenciei foi um universo de sutilezas detalhes de sons, cores, formas, escolhas, movimentos que fazem nosso olhar se redimensionar desfocalizando uma perspectiva macro para observar o micro presente naquele espaço, naquele corpo, naquele tempo. Enfim passamos a ver as coisas através de uma perspectiva poética de existir. 

Referências:
BAUDRILLARD, J. Senhas, Rio de Janeiro, Dífel, 2001.



IV Festival Dançapontocom

Luiza Karnas


           Aqui! Re-Sintos se passa aqui. Aqui no elevador, aqui no hospital, aqui no bordel... Aqui na mente humana, no corpo, no movimento. Com uma estética de encher os olhos, o espetáculo da Mouvere Cia de Dança já é um clássico da dança contemporânea gaúcha. Um clássico que, de forma moderna, inteligente e bem humorada, trata dos diversos espaços que o homem perpassa durante a vida, sejam eles internos ou externos. A relação entre esses diversos espaços se inicia no momento em que o público entra na plateia do teatro. Essa está nebulosa e embasada devido a excessiva fumaça que vem do palco, fazendo com que a normal distância entre espectador e artista se estreite. O público entra no recinto teatral para ver, ouvir e sentir as possíveis relações entre homem-espaço, e como essas relações afetam uns aos outros na nossa sociedade. 

A qualidade cênica do espetáculo é indiscutível. O cenário e os figurinos escuros, retos e rígidos contrastam com a movimentação proposta por Jussara Miranda, coreógrafa e diretora geral do espetáculo. Com gestos predominante sinuosos – apesar de haver uma clara quebra de movimentação em uma das cenas –, os movimentos variavam entre o simples e virtuoso, entre o pausado e contínuo, entre o rápido e lento. As coreografias, além de explorar muito bem os espaços criados e delimitados pelo cenário, permitem que os bailarinos demonstrem suas qualidades técnicas e performáticas, concretizando com excelência as propostas e conceitos pensados para a cena. 

Re-Sintos é um espetáculo maduro, com um poder visual que se comunica diretamente com o espectador. Realmente, um espetáculo de se aplaudir em pé, como aconteceu na última sexta-feira no Teatro Renascença. Re-Sintos é para re-visitar, re-velar, re-viver. É para orgulhar, para inspirar. É daqui, artistas daqui, criado aqui. Aqui! 



Minhas Memórias do IV Dançapontom

Clarice Alves


O IV Festival Dançapontocom terminou no domingo e fiz uma espécie de lista de emoções, de palavras e de experiências que passarão a fazer parte da coleção que guardo na memória. Como são recentes e foram muitas num curto espaço de tempo, ainda estão aleatórias e confusas dançando freneticamente e atordoando meus neurônios. Tentando dar ordem ao caos, segue o que colhi: 

Sobre a homenagem ao Terpsí: 

Na manhã úmida e fria de sábado a imagem vinda de um outro tempo da Cíntia Flach em Lautrec... fin de siècle(1993) emergindo dos chuviscos na tela da Sala P.F. Gastal, em cores desfiguradas, louca no palco, rompendo o tempo com seu uivo lascivo. A imagem mais forte de todo festival para mim. A força da criação artística transcendendo a mofo da fita VHS em que estava aprisionada. Uma espécie de gênio libertado da lâmpada. Apenas eu e mais 11 pessoas assistiram a esse milagre. 

“Tu tens que te aprofundar na fragilidade. Deixa a cultura fálica para os burocratas”, Leta Etges para a Carlota. 

O Raul Voges dançando livre com um pé de salto em cima da mesa na Casa das Especiarias, uma celebração à vida; 

“O que me interessa é a diversidade de corpos” Carlota Albuquerque. 

Eu só existo em grupo...eu sou a água, vocês são os temperos” Carlota Albuquerque; 

A Sala Álvaro Moreyra inundada de amor na homenagem à Carlota Albuquerque; 

As anotações do debate com as professoras Maria Helena Bernardes e Suzane Weber: 

“A arte da performance deve muito mais à dança do que ao teatro”, Maria Helena Bernardes. 

“Há um padrão dominante na dança contemporânea no mundo todo. Há uma predominância feminina na dança. Mulheres muito mais técnicas de que os homens. Há uma preferência por beleza e exotismo nos corpos”, Suzane Weber. 

“A trilha sonora é uma fragilidade na produção em dança”, Suzane Weber. 

“Mesmo no início da década de 90 quando a Pina Baush começou a fazer sucesso e não tínhamos visto nada dela. Quando alguns professores do DAD traziam fotos e cartazes de seus espetáculos, já estávamos sendo influenciados por aquele padrão” Suzane Weber. 

“Cada artista tem uma busca pelo que ele nem sabe dizer o que é. Mas quando encontra sabe exatamente que encontrou. Essa é uma sensação que só o artista experimenta”, Maria Helena Bernardes. 

Impressões da Mostra de domingo: 

A invasão das ruas em pleno Renascença, tipo “o terrorista pode estar ao seu lado plantando bananeira”. Será que foi dança reportagem o que o Grupo Experimental fez? 

A precisão de movimentos, cenografia e iluminação em Fauno; 

A dama samurai Luciana Paludo desenhando com o corpo imagens deslumbrantes na penumbra do palco; 

O professor Jair Umann reverberando no maculelê de mão dadas com a dança contemporânea. 

A chuva de cebolas na bailaora destrambelhada Dani Zill; 

A Paulinha Finn – cria da UFRGS e do Centro de Dança – virando gente grande em produção; 

O no sense da performance proposta por Márcio Canabarro, arriscando corpos de personas da dança na cidade no aleatório que intriga e desconforta mentes cartesianas.

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